terça-feira, 10 de maio de 2011

MONOCROMIA




Passada e enchente em nossa região, retorno a tônica original do blog. Ainda rememorando a poesia, segue esta que até hoje me diz muito, pois ainda reverbera em mim a tensão por liberdade, por dignidade, por esperança de dias melhores nessa região que tem seu desenvolvimento assentado na brutal exploração do ser humano.
Ser monocromático, é ter uma só face, é ser mais-do-mesmo. Monocromia, remete a inteligência binária que mencionem em “palavras e silêncios”(neste blog),  é o coronelismo em oposição a democracia,  a aculturação em oposição a multiculturalidade  e a imagem mais própria, o latifúndio em oposição a biodiversidade da mata atlântica. Ou simplesmente morte e vida como foi brilhantemente exposta por João Cabral de Melo Neto.



MONOCROMIA

Os meus dias, tantos dias
Repetidos, tão ausentes
Ainda sigo displicente
Imerso nesse contexto.
Que a liberdade tem preço ?
Não creio! Mas hoje em dia
Esvaiu-se a poesia
De viver de, de ter vontade
De buscar felicidade
No que se ergue ao intangível.

Seria isto possível ?
Em meio a tantas agruras
Das tantas desventuras
Tão presentes... cotidianas
Se num fechar de pestanas
Outra vez... resignado.
Se já não temos passado
E a história chegou ao fim
Quem eu sou? Por que eu vim ?
Não interessa! Está selado.
 
Como posso acreditar
Que nada será mudado
Que a esperança não nos serve
Que a vida não prossegue
Que só a morrer estamos fadados?
Disto não me oriundo!
De um viver latifúndio
Uma paleta e duas cores
No monopólio das dores
De um contraste solitário.

O presente repetido
E um ego ébrio esconde as flores
O desalento do amor perdido
Preto e branco enternecido
Num império de vida sem cores.
Mas a aquarela de um novo dia
Emergindo em poesia
Vem minando o estamento estanque
Me transporto ao tempo infante
Insisto e me arrisco na real utopia.

O Arco-íris do que hoje é banal
O inevitável mundo novo
Construído pelo povo
Far-se-á uma constante,
Com o impunível sol brilhante
Refloreste a humanidade
Re-dimensione a cidade
Sem radicalismo histérico
Desmorone o ser periférico
Rumo à nova sociedade.


Apesar da força, a correnteza
Não me rendo a esta monocromia
Nessa morbidez letal dos dias
Que conduzem à estrada projetada
Sigo forte o contrário na jornada
Em meio à humanidade ávida,
Garimpando o possível em terras grávidas
Grafitando matizes no muro invisível
O painel de um futuro irresistível
Um levante das vidas que foram roubadas.

Ítalo Agra
  Gameleira, 07 de outubro de 2006.




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