Escola Pública e a Incompetência: de quem ?
Tenho dedicado 22 dos 25 anos da minha vida estudando para ser, entre outras coisas, um profissional competente. Iniciei como professor em 2008 e desde 11 de fevereiro de 2010 sou técnico educacional da rede estadual, esperava uma função a altura do nível de exigência do concurso e que fizesse valer as atribuições e expectativas em relação ao novo modelo de gestão.
Para minha surpresa, os técnicos educacionais foram postos nas escolas como preenchedores de planilhas e fantoches devido à orientação genérica e inútil de que devemos “ajudar os gestores”, ou seja, na prática fica por conta deles definir o que devemos fazer. Já que a Secretaria, desde então, não deu uma formação sequer para dizer qual a nossa função e explicar o nosso papel no tão divulgado modelo de gestão adotado na rede, as formações são só para os gestores.
Estes sim, alguns foram inclusive “promovidos”, com a rejeição do governo as eleições, ao status de “donos” pelo poder “absoluto” e pelo tempo que estão nas escolas, mesmo que tenham péssimos resultados. Algumas escolas têm sorte de ter bons gestores por muito tempo, mas e quando ocorre o contrário?
O que dizer de um governo que respira números e metas, que adota um discurso de culpabilização dos professores como se houvesse uma incompetência inata da profissão mas é licencioso com quem tem muito mais poder de fazer funcionar ou não uma escola; que premia as “melhores” mas não se pergunta porque as “piores” estão assim e o que pode ser feito e incide sobre os fatores que as fazem “piores” ; é licencioso com os critérios e as politicagens nas seleções de temporários ; assim como na ocupação/acumulação de cargos de coordenação nas GREs e é omisso quando os prazos e metas descumpridos são os seus, como na minha escola que está há mais de 6 meses sem telefone, internet e só com um computador obsoleto para todos os trabalhos.
De quem é a incompetência? Será só nossa? E o que dizer de um modelo de gestão que só incide de fato sobre os peões? E que ignora princípios basilares da pedagogia. Culpar apenas os professores e profissionais que estão na base é uma das maneiras mais ridículas e imorais de maquiar a omissão histórica do estado com a educação o que nos remete a ideia de Darcy Ribeiro[i] de que a tragédia da educação brasileira é de fato um projeto de desenvolver o país mantendo o povo na ignorância.
O atual governo não quer conhecer os problemas reais da educação, ignora os profissionais é arrogante e autoritário. Investe na educação, mas procurando resolver com maquiagens modernizadores problemas que são estruturais, parte da premissa de que a educação está assim porque os funcionários não trabalham. Este é um elemento apenas, mas, toda generalização é burra.
Culpar apenas a base é uma forma conveniente de omitir suas omissões e incompetências. Se os governantes e parlamentares tivessem com a educação pública e com o funcionalismo a mesma solicitude que tem para dar aumento e vantagens escandalosas a si próprios a educação seria outra, a atual geração já teria outra base profissional e cidadã, mas, provavelmente poucos deles seriam eleitos nessas condições. Esse é um dos dilemas da educação, há muita gente lucrando com a ignorância nesse país.
Talvez, quando o secretário, os gestores e políticos descerem de suas torres de cristal climatizadas para encararem de fato a realidade das escolas públicas, as condições em que se produzem as “melhores” e as ditas “piores” teremos muito mais educação do que retórica e propaganda na Rede Estadual de Pernambuco.
Aos que fazem a educação na realidade. Indignem-se e protestem também, essa é a única forma de sermos ouvidos e modificarmos as decisões dos ilustres mandatários que só conhecem a educação pública atrás dos birôs dos seus confortáveis e inacessíveis gabinetes.
Saudações
Ítalo Agra de Oliveira Silva
Professor e Técnico Educacional da Rede Estadual.
Lotado na GRE – MATA SUL em Ribeirão -PE
[i] Ver texto : RIBEIRO, Darcy. Sobre o Óbvio: Ensaios Insólitos, 1979. www.4shared.com/.../RIBEIRO_Darcy_-_Sobre_o_Obvio_.html -
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