In memoriam, do tempo em que me dediquei a poesia, decidi revirar algumas pastas de arquivos, as palavras esquecidas e acendê-las aqui no blog. É claro que desses arquivos tem muita coisa impublicável, segue então, o que eu acho que ainda tem algo a dizer ou até mais o que nunca teve essa chance pois quase tudo que escrevi nesse gênero ficou imerso em gavetas e arquivos. Segue então, para o gosto ou desgosto de vocês, aproveitando o mote regionalista em " Palavras e Silêncios" esse arranjo de poesia sobre a minha terra, a mata sul pernambucana.
CIVILIZAÇÃO CANAVIEIRA
Forjada pelo fogo
Em contraste a semeadura
Alastra as suas fronteiras
Pelos resquícios de fartura
Destruindo matas inteiras
Com grosseira agricultura.
Produz também homens
Que suas vidas inteiras
Seguem em fileiras
Vivendo as agruras
Constroem barreiras
E moldam a cultura.
Os homens tem em suas faces
Uma imagem monocultora
Na sobrevida de impasses
Na indústria opressora,
No labirinto da existência letal
Posto à classe trabalhadora.
Secas terras, porém verdes
Só tem a cor da vida
Mas, esta já foi castrada,
Vidas mortas, desagregadas
O ser dormente da árdua jornada
A esperança ausente, pois, já foi roubada.
Nessas vidas mutiladas,
Nesses tantos dias a fio
Na humanidade usurpada
Nas infâncias violadas
Pela força maturadas,
Dessa gente mortificada
Desses filhos do Brasil.
A corrupção atroz
Continua a ser fronteira
Nesse mundo semi-feudal
Pautado por cercas e barreiras,
Onde pensar é anormal
Assim , como tudo que é vivente
Onde viver é uma besteira
Pois, é contraproducente.
O ser condicionado pelas barreiras
E pelo espaço ausente
Está preso mas não sente
Tem na fé sua companheira,
E segue o ritmo da dança
Que o bom civil é quem balança
a cabeça a vida inteira,
E SE FAZ O-B-J-E-T-O
E SE FAZ S-U-I-C-I-D-A
E SE FAZ B-A-G-A-Ç-O
nessa estrutura que moe a vida.
E o trabalho explorado
É a única matéria que lhe tange,
O açúcar com gosto de sangue
Que é o produto deste reinado.
Deste mundo que vive no passado
Num Brasil que ainda é colonial
Que cultiva um viver medieval
Que corrompe o ser e a vida inteira,
Faz dos homens bagaços
E da vida fronteiras
E a cerca e o aço
é a ordem, a fileira,
E o exército é quem sobra
Pra servir de mão de obra
Pra esta nação sem bandeira,
Nesse sistema que mata
Nesta zona da mata
a CIVILIZAÇÃO CANAVIEIRA.
Ítalo Agra
Gameleira-PE , 19 de Setembro de 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário