domingo, 29 de maio de 2011

PROFESSORA RESPONDE A REVISTA VEJA

RESPOSTA À REVISTA VEJA


Abaixo estou enviando uma cópia da carta escrita por uma professora que trabalha  no Colégio Estadual Mesquita, à revista Veja.
Peço por favor que repasse a todos que conhecem, vale a pena ler.

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS  razões que  geram este panorama desalentador. 

Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira. 
Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que  pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras. 
Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.

Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. 

Estímulos de quê?  De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida. 


Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.
Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir em árvores?
E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.
Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução),  levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.
E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”,  elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;
Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas.Plano de saúde? Muito precário.
Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que  esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.
Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.
E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.
Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é  porque há disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros.  Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se.
Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade..
Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade!  E, precisamos, também,urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo
Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!
Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

Vamos fazer uma corrente via internet, repasse a todos os seus! Grata
Vamos começar uma corrente nacional que pelo menos dê aos professores respaldo legal quando um aluno o xinga, o agride... chega de ECA que não resolve nada, chega de Conselho Tutelar que só vai a favor da criança e adolescente (capazes às vezes de matar, roubar e coisas piores), chega de salário baixo, todas as profissões e pessoas passam por professores, deve ser a carreira mais bem paga do país, afinal os deputados que ganham 67% de aumento tiveram professores, até mesmo os "alfabetizados funcionais". Pelo amor de Deus somos uma classe com força!!! Somos politizados, somos cultos, não precisamos fechar escolas, fazer greves, vamos apresentar um projeto de Lei que nos ampare e valorize a profissão.
Vanessa Storrer - professora da rede Municipal de Curitiba!

terça-feira, 24 de maio de 2011

A BÍBLIA E OS GAYS - Frei Betto


A Bíblia e os gays

Publicada em 23/05/2011 às 16h14m
FREI BETTO
É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as "pessoas diferenciadas"...).
Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).
No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países-membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela "despenalização universal da homossexualidade".
A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.
Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hetero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.
São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que "quem ama conhece a Deus" (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).
Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
Ora, direis, ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os "eunucos de nascença" (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão; e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.
FREI BETTO é escritor.

domingo, 22 de maio de 2011

EXCELENTE VÍDEO - " ADOLF CAMPOS" paga o PIOR salário do Brasil

Este vídeo faz uma sátira do filme "A queda", que trata dos últimos momentos de Hitler. Infelizmente o autor bloqueou para download e para compartilhar pelo youtube. Só dá para ver copiando utilizando o link abaixo.
Achei excelente, inclusive para TRABALHAR EM SALA... porque não é só engraçado, é inteligente. Pena que na realidade Eduardo não esteja nenhum pouco preocupado com a situação dos professores... mas, a luta continua. Divulguem esse vídeo...


http://www.youtube.com/watch?v=J6q__BkGZYY&feature=autoplay&list=FLNolTpN7RxFQ&index=1&playnext=4

ALTERNATIVA: Pernambuco passa nova vergonha em rede nacional - ...

Destaque em reportagem exibida no Jornal Nacional, média salarial de professores em Pernambuco é indicada como a mais baixa. Isso não é novidade, mas é sempre importante ressaltar as vezes em que tal condição é apontada nacionalmente, para que se tenha em perspectiva que muito do que se apresenta como propaganda governista não passa de enganação.

ALTERNATIVA: Pernambuco passa nova vergonha em rede nacional - ...: "Destaque em reportagem exibida no Jornal Nacional, média salarial de professores em Pernambuco é indicada como a mais baixa. Isso não é no..."

É MELHOR RIR DO QUE CHORAR... vejam esse vídeo criativo feito sobre a desgraça do salário e da condição de trabalho que temos em PERNAMBUCO , destaque-se no GOVERNO EDUARDO CAMPOS...

Governo de Pernambuco e o Mestre Publicitário.

educAÇÃO BR: Governo de Pernambuco e o Mestre Publicitário.: "Programa nacional do PSB, coordenado pela Link Comunicação & Propaganda, exibido em horário político no dia 19/05/2011. Do educAÇÃO BR O n..."

quinta-feira, 12 de maio de 2011

MERITOCRACIA E ILUSIONISMO


EDUCAÇÃO DE MENTIRINHA É COM ELE.




Olhem aqui onde foi que Eduardo Campos aprendeu a fazer educação de mentirinha. Copiou dos Mestres José Serra, Alckmin e Aécio Neves, que por sua vez copiaram de George W. Bush e agora Obama que continua na mesma política educacional. 


É aquela velha história da "síndrome de cachorro vira-lata" de que sofrem muitos brasileiros que acham que tudo que é feito no Estrangeiro(especialmente nos EUA) também serve para nós. Pasmem então, essa politiquinha educacional do Governador há vinte anos foi implantada nos Estados Unidos e o Resultado ? F-R-A-C-A-S-S-O !!!!   


só ensinou as escolas a corromperem os sistemas de avaliação para ganhar uma esmolinha anual ao invés de um SALÁRIO e condições de trabalho dignas. E, é claro. Estufar os cofres das empresas que mandam na educação. No nosso caso o Instituto Ayrton Senna; o MBC entre outros. Quer dizer... provavelmente vai dar errado, mas Dudu não está nem aí.. ELE QUER SER É PRESIDENTE..."para quê filho de pobre tendo educação que preste não é mesmo ?".... DUDU MALVADESA PRESIDENTE !!!    DEUS NOS LIVRE... 


sobre o fracasso Americano ler : 


 LUIZ FREITAS: Responsabilização, Meritocracia e Privatização.  http://www.cedes.unicamp.br/seminario3/luiz_freitas.pdf


Diane Ravith : " antiga adepta do gerencialismo na Educação que ocupou posição de destaque no governo de George W. Bush, tem ganhado repercussão dentro e fora dos Estados Unidos e abalado crenças sobre as políticas educacionais com estratégias orientadas pelo mercado.

Trata-se de “The death and life of great American school system: how testing and choice are undermining Education” (A morte e a vida do grande sistema escolar americano: como os testes e as escolhas estão minando a educação, Basic Books, 288 páginas). "

ALTERNATIVA: A meritocracia e o ilusionismo

ALTERNATIVA: A meritocracia e o ilusionismo: "Rodrigo Martins - Carta Capital Sem reajuste salarial desde 2005 e descontentes com os critérios usados para o pagamento da chamada “boni..."

terça-feira, 10 de maio de 2011

MONOCROMIA




Passada e enchente em nossa região, retorno a tônica original do blog. Ainda rememorando a poesia, segue esta que até hoje me diz muito, pois ainda reverbera em mim a tensão por liberdade, por dignidade, por esperança de dias melhores nessa região que tem seu desenvolvimento assentado na brutal exploração do ser humano.
Ser monocromático, é ter uma só face, é ser mais-do-mesmo. Monocromia, remete a inteligência binária que mencionem em “palavras e silêncios”(neste blog),  é o coronelismo em oposição a democracia,  a aculturação em oposição a multiculturalidade  e a imagem mais própria, o latifúndio em oposição a biodiversidade da mata atlântica. Ou simplesmente morte e vida como foi brilhantemente exposta por João Cabral de Melo Neto.



MONOCROMIA

Os meus dias, tantos dias
Repetidos, tão ausentes
Ainda sigo displicente
Imerso nesse contexto.
Que a liberdade tem preço ?
Não creio! Mas hoje em dia
Esvaiu-se a poesia
De viver de, de ter vontade
De buscar felicidade
No que se ergue ao intangível.

Seria isto possível ?
Em meio a tantas agruras
Das tantas desventuras
Tão presentes... cotidianas
Se num fechar de pestanas
Outra vez... resignado.
Se já não temos passado
E a história chegou ao fim
Quem eu sou? Por que eu vim ?
Não interessa! Está selado.
 
Como posso acreditar
Que nada será mudado
Que a esperança não nos serve
Que a vida não prossegue
Que só a morrer estamos fadados?
Disto não me oriundo!
De um viver latifúndio
Uma paleta e duas cores
No monopólio das dores
De um contraste solitário.

O presente repetido
E um ego ébrio esconde as flores
O desalento do amor perdido
Preto e branco enternecido
Num império de vida sem cores.
Mas a aquarela de um novo dia
Emergindo em poesia
Vem minando o estamento estanque
Me transporto ao tempo infante
Insisto e me arrisco na real utopia.

O Arco-íris do que hoje é banal
O inevitável mundo novo
Construído pelo povo
Far-se-á uma constante,
Com o impunível sol brilhante
Refloreste a humanidade
Re-dimensione a cidade
Sem radicalismo histérico
Desmorone o ser periférico
Rumo à nova sociedade.


Apesar da força, a correnteza
Não me rendo a esta monocromia
Nessa morbidez letal dos dias
Que conduzem à estrada projetada
Sigo forte o contrário na jornada
Em meio à humanidade ávida,
Garimpando o possível em terras grávidas
Grafitando matizes no muro invisível
O painel de um futuro irresistível
Um levante das vidas que foram roubadas.

Ítalo Agra
  Gameleira, 07 de outubro de 2006.




terça-feira, 3 de maio de 2011

CIVILIZAÇÃO CANAVIEIRA



In memoriam, do tempo em que me dediquei a poesia, decidi revirar algumas pastas de arquivos, as palavras esquecidas e acendê-las aqui no blog. É claro que desses arquivos tem muita coisa impublicável, segue então, o que eu acho que ainda tem algo a dizer ou até mais o que nunca teve essa chance pois quase tudo que escrevi nesse gênero ficou imerso em gavetas e arquivos. Segue então, para o gosto ou desgosto de vocês, aproveitando o mote regionalista em " Palavras e Silêncios" esse arranjo de poesia sobre a minha terra, a mata sul pernambucana.


CIVILIZAÇÃO CANAVIEIRA

Forjada pelo fogo
Em contraste a semeadura
Alastra as suas fronteiras
Pelos resquícios de fartura
Destruindo matas inteiras
Com grosseira agricultura.
Produz também homens
Que suas vidas inteiras
Seguem em fileiras
Vivendo as agruras
Constroem barreiras
E moldam a cultura.

Os homens tem em suas faces
Uma imagem monocultora
Na sobrevida de impasses
Na indústria opressora,
No labirinto da existência letal
Posto à classe trabalhadora.

Secas terras, porém verdes
Só tem a cor da vida
Mas, esta já foi castrada,
Vidas mortas, desagregadas
O ser dormente da árdua jornada
A esperança ausente, pois, já foi roubada.
Nessas vidas mutiladas,
Nesses tantos dias a fio
Na humanidade usurpada
Nas infâncias violadas
Pela força maturadas,
Dessa gente mortificada
Desses filhos do Brasil.

A corrupção atroz
Continua a ser fronteira
Nesse mundo semi-feudal
Pautado por cercas e barreiras,
Onde pensar é anormal
 Assim , como tudo que é vivente
Onde viver é uma besteira
Pois, é contraproducente.



O ser condicionado pelas barreiras
E pelo espaço ausente
Está preso mas não sente
Tem na fé sua companheira,
E segue o ritmo da dança
Que o bom civil é quem  balança
a cabeça a vida inteira,
E SE FAZ O-B-J-E-T-O
E SE FAZ S-U-I-C-I-D-A
E SE FAZ B-A-G-A-Ç-O
nessa estrutura que moe a vida.
E o trabalho explorado
É a única matéria que lhe tange,
O açúcar com gosto de sangue
Que é o produto deste reinado.



Deste mundo que vive no passado
Num Brasil que ainda é colonial
Que cultiva um viver medieval
Que corrompe o ser e a vida inteira,
Faz dos homens bagaços
E da vida fronteiras
E a cerca e o aço
é a ordem, a fileira,
E o exército é quem sobra
Pra  servir de  mão de obra
Pra esta nação sem bandeira,
Nesse sistema que mata
Nesta zona da mata
a CIVILIZAÇÃO CANAVIEIRA.

Ítalo Agra
Gameleira-PE , 19 de Setembro de 2006.