sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CARTA AO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DE PERNAMBUCO


CAROS COLEGAS DA EDUCAÇÃO

Segue a carta que enviei ao Secretário de Educação de Pernambuco, Dr. Anderson Gomes, com reflexões sobre a problemática do cotidiano escolar que raramente são tratados ou considerados ante a fobia por resultados. 

Já que o Sindicato  tem se comprometido muito mais com as legendas partidárias do que com os trabalhadores da educação a categoria está sem porta voz, creio que cada um em seu local de trabalho, em sua função precisa pautar as discussões diante da política educacional vigente, que faz parecer que cabe somente a escola a elevação da qualidade da educação. Porém, insiste em práticas e direcionamentos equivocados pedagogicamente pois são pautados pelos bancos e pelas instituições privadas que lucram criando "receitas" de gestão para a educação.

Sou um dos que defendem a responsabilização, mas não a que deposita sobre a escola a culpa e a obrigação de dar conta de SÉCULOS DE OMISSÃO. A classe dirigente brasileira tem um mérito fantástico, por ser a única no mundo, com o potencial econômico que temos que conseguiu PRODUZIR LUCRO E BURRICE em larga escala ao mesmo tempo.(Ler sobre o Óbvio - Darcy Ribeiro).

É natural que se tenha pressa para tirar Pernambuco da situação vexatória em que se encontrava em 2005, mas que não é tão diferente atualmente. Faço questão de me posicionar como PROFESSOR e Técnico (PEDAGOGO) que a educação de Pernambuco está fazendo uma grande reforma Administrativa, mas, ainda está engatinhando na Pedagogia (que é a atividade FIM da escola). Creio que os profissionais da educação ainda não foram reconhecidos como FUNDAMENTAIS para o processo de crescimento. Digo até mais, Pernambuco, estagnará em seus números que QUISER insistir nessa fórmula arrogante e tecnocrática sobre os profissionais que LITERALMENTE FAZEM a escola.

Já que o Estado tem um programa com o nome do GRANDE EDUCADOR Paulo Freire, que infelizmente é ignorado na política educacional do estado hoje. Sugiro a S.E que antes de evocarem Freire, quando convém , VEJAM O QUE ELE DIZIA SOBRE O QUE FAZEM...

Não podemos falar das metas educativas sem nos referirmos às condições materiais das escolas. E que elas não são apenas ‘espírito’, mas ‘corpo’ também. A prática educativa cuja política nos cabe traçar, democraticamente, se dá na concretude da escola, por sua vez situada e datada e não na cabeça das pessoas.[...] em última análise, precisamos demonstrar que respeitamos as crianças, suas professoras, sua escola, seus pais, sua comunidade, que respeitamos a coisa pública, tratando-a com decência. Só assim podemos cobrar de todos o respeito também às carteiras escolares, às paredes da escola, às suas portas. Só assim podemos falar de princípios e valores.[...]  Precisamos deixar claro que acreditamos em quem e respeitamos quem se acha nas bases.[...] Mudar a cara da escola implica também ouvir meninos e meninas, sociedades de bairro, pais, mães, diretoras de escolas, delegados de ensino, professoras, supervisoras, comunidade científica, zeladores, merendeiras etc. Não se muda a cara da escola por um ato de vontade do secretário. (FREIRE, 2005, 34-35)

Pois bem,  seguem as reflexões para que compartilhem entre os colegas, comentem se concordarem ou não. Outras reflexões vocês encontrarão no meu blog







Saudações gameleirenses....
  
Prof. Ítalo Agra
Pedagogo (FAESC)
Mestrando em Educação (UFPB)
Professor e Técnico Educacional da
Rede Estadual de Pernambuc o
 
http://lattes.cnpq.br/7937390653515896

http://palavra-acesa-italoagra.blogspot.com/

http://twitter.com/#!/italoagra

 








Ao Ilmo Secretário de Educação.
Prof. Phd. Anderson Gomes

 Hoje(10/10) a GRE Mata Sul, promoveu o encontro para repassar e nos ensinar a analisar os dados do SAEPE. Faço questão de parabenizá-lo, pois , pelo que nos informaram, foi decisão sua a de produzir os materiais para serem impressos em quantidade satisfatória e não só entregues, e sim analisados com os professores, técnicos e educadores de apoio.

O encontro está sendo muito proveitoso (amanhã 11 será concluído) tanto que dele surgiram diversas reflexões que humildemente compartilho com quem tem mais  possibilidades de intervir qualitativamente nas questões que relato a seguir.

A GESTÃO POR RESULTADOS AINDA NÃO "ENTROU" NA MAIORIA DAS ESCOLAS. Digo a partir das que eu conheço e diga-se de passagem, minha GRE está com o pior resultado do estado. O monitoramento sim, este é sentido desde 2008, com o aumento do controle dos processos, a observação dos rankings e dos resultados alcançados entre outros. 
MAS, existe uma IMENSA debilidade pedagógica na utilização dos dados provenientes do SAEPE.  O monitoramento coíbe algumas práticas inadequadas, mas não tem um desdobramento maior na atividade mais relevante da escola que é o ensino. Atua-se para garantir que o professor entre na sala, mas e daí ? há todo um esforço para que as aulas previstas sejam dadas, mas, o que está sendo dado? As OTMs, as matrizes , o livro didático, o enrolation....como saber? Pelo registro da aula? No que é mais importante para a escola ainda estamos engatinhando.

A própria estrutura montada de educadores de apoio está falida (se é que já não nasceu assim, como uma economia que tem saído caro). Se a gestão por resultados é uma novidade até para muitos pedagogos, como confiar, por exemplo, o DESDOBRAMENTO PEDAGÓGICO DOS DADOS DO SAEPE (atividade bastante complexa) a professores que exercem a função e que não tem formação aprofundada para tanto. Simplesmente ele não tem obrigação de saber.


Até porque, o modelo de seleção interna com restrição de áreas e sem gratificação, estimulou muito mais que a função fosse um refúgio da sala de aula e não uma área que exige experiência e competência técnica. Outro dado é a imensa demanda por educadores de apoio nas escolas. É que terminada a seleção interna, não foi feito nada para preencher as lacunas, simplesmente ficou em aberto, como se fosse um trabalho qualquer. A banalização do trabalho pedagógico fica reiterada nessa opção do governo.


 Duvido que as pessoas que inventaram essa gambiarra confiem ir a um ortopedista tendo problemas do coração. Ora, não são todos médicos ?? é isso que nos dizem, com esse modelo. Duvido ainda, que confiem seus filhos a escolas que não investem em um suporte pedagógico de qualidade. E porque esta fórmula avarenta haveria de funcionar nas escolas públicas ???

O feed back das avaliações da rede não estão sendo articuladas nas escolas. Quantos têm pensado e planejado o desdobramento pedagógico daquela parafernália de dados que nos chegam e que nos pedem? O técnico é o profissional com melhores condições para fazer essa transposição, MAS, tem ficado relegado ao preenchimento de planilhas com intermináveis urgências e urgências... e o pedagógico, que é a atividade fim da escola, passa ao largo da nova realidade. Outro fato é que a demanda por mudança na cultura organizacional das escolas encontra pouca aderência nas instituições que, devido à leniência do estado, depois de anos e anos de um mesmo comando já se cristalizou uma ordem particular, inclusive em detrimento da política do estado, das avaliações e resultados.

Creio que se a SE não mudar as equipes gestoras e refundar esse modelo arcaico de gestão e, sobretudo não garantir o suporte pedagógico para a articulação desta política infelizmente não alcançaremos o que de nós se espera e tanto se cobra.

Um fator condicionante da melhoria do desempenho das escolas envolve a noção de tempo pedagógico. É preciso conceber que o processo de formação continuada estagnou, dada uma compreensão medíocre de que tempo pedagógico é só em regência em sala. 


E quando os professores vão, por exemplo, analisar as matrizes, planejar juntos, elaborar atividades com bases nos descritores, planejar intervenções personalizadas com base nas escalas de proficiência se não tiver um tempo, dentro do seu horário para tanto? e a aula atividade? digo que é um tempo improdutivo na maioria dos casos e a cobrança intensiva cria uma rejeição a tudo que for acréscimo de tempo e trabalho o que fica pior, tendo em vista que a maioria tem dois vínculos.

Ou seja, se os professores fizerem só o que legalmente são obrigados NÃO melhoraremos nossos indicadores qualitativos de jeito nenhum. Sabe qual é a pior qualidade de profissional? Não é o que falta, o que não entrega caderneta, não dá aula, pois, esses são facilmente identificáveis e passíveis de punição. O pior para uma escola que demanda esforço coletivo, é o que cumpre estritamente o que lhe é cobrado formalmente, mas não veste a camisa da escola. Este está no direito dele. Ele vai, dá as suas aulas, faz trabalho, teste e prova e pronto. 
E daí, QUAL A LEI QUE OBRIGA OS PROFESSORES A TRABALHAR COM DESCRITORES, matriz de referência, planejar com base nas escalas de proficiência, planejar projetos de intervenção, trabalhar com atividades diversificadas com foco nas competências com déficit maior e etc. Nenhuma. O SALTO DE QUALIDADE QUE PRECISA SER DADO DEMANDARÁ A CONQUISTA DA COOPERAÇÃO DOS PROFISSIONAIS E ISSO PASSA DIRETAMENTE PELO RESPEITO E PELO SUPORTE A SUA FUNÇÃO.


Os formuladores da Gestão por resultados me diriam, tem o bônus para isso. Mas será que o bônus convence a todos. Será que o bônus não estimula muito mais ao imediatismo e a toda sorte de jeitinhos brasileiros do que o compromisso autêntico e competente para enfrentar os problemas estruturais de que padecem as nossas escolas? A história nos sinaliza para isso. É o princípio de Campbell, quanto mais valorizado um indicador, maiores as chances de ser corrompido.


É preciso que as escolas comprem esta causa, e isto não se faz com imposição ou oferecendo uma coisinha em troca como se faz com as crianças. É preciso que a SE e o Governo tenha coragem de dialogar cada vez mais e dar mais suporte a ATIVIDADE FIM das escolas, a começar pelo suporte pedagógico, pelo auxiliar de disciplina que faz muita falta nas escolas e que o processo eleitoral funde o princípio de GESTÃO e não mais a centralização na pessoa do gestor, que muitas vezes atua na escola como um dono.
Trabalhar a perspectiva da equipe dá mais celeridade e sinergia ao trabalho. E não é pedagogismo participacionista, é claro que as orientações pseudopedagógicas do Banco Mundial não vão incorporar essa premissa, mas não falo nessa linha.

Um exemplo de rigoroso monitoramento do trabalho pedagógico, voltado PARA O PEDAGÓGICO e não para o ajuste fiscal, é o caso de Cuba expresso na obra de Martin Carnoy[1] "A vantagem acadêmica de Cuba". Por outro lado, um estudo que tem dado muito o que falar, é o de Diana Ravitch[2]. A historiadora americana que trabalhou na consolidação das políticas de responsabilização na década de 80 e que escreveu o livro  Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano (The Death and Life of the Great American School System: How Testing and Choice Are Undermining Education) no qual relata as imensas distorções criadas pelo sistema de responsabilização, inclusive de casos absurdos de corrupção em estados que são tomados como exemplo, como o de Nova York.


Se a Secretaria de Educação NÃO CONSIDERAR SERIAMENTE OS FATORES QUE CONDICIONAM OS RESULTADOS DE PROFICIÊNCIA OS RESULTADOS ESTAGNARÃO DIANTE DA COMPLEXIDADE QUE ENVOLVE O CRESCIMENTO NA PROFICIÊNCIA MEDIANTE O DESENVOLVIMENTO DE PLANEJAMENTO E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NOS PONTOS CRÍTICOS. E quem vai identificá-los? quem vai articular o conjunto para enfrentá-los com competência?


Esse profissional não existe na grande maioria das escolas, e o que pode fazer isso está sendo subutilizado, como um mero coletor de dados (de luxo) ou está sobrecarregado com atribuições que são de outras funções. Melhor que tenha um funcionário devidamente habilitado e com autonomia funcional para lidar com este desafio.

A propósito, às 11h do dia 10 quando estávamos na formação sobre os resultados do SAEPE, recebemos um email da UGR determinando que deixássemos a formação dar conta das planilhas. Tudo bem quanto aos prazos que devem ser cumpridos, mas, já estamos na função há um ano e oito meses e não teve sequer uma formação para situar as nossas atribuições dentro do modelo de gestão, os nossos limites e possibilidades funcionais e etc. Daí,  quando tem a primeira atividade em que vislumbro a possibilidade de fazer algo além  coletar dados com a finalidade não declarada e atender as sucessivas urgências de planilhas, somos convocados a recolher a nossa insignificância e voltar para fazer planilhas.


Me sinto como o personagem de Chaplin apertando parafusos na linha de montagem, no filme Tempos Modernos. Enquanto isso reina solta a ignorância quanto a questões elementares desse modelo de gestão, sobretudo quanto às avaliações.  Até hoje não entendo porque o estado fez questão por pedagogos para a função. São quase todos especialistas e com experiência como professores, coordenadores... Para isso? era melhor contratar estagiários, seria mais coerente com as premissas de ajuste fiscal que o governo segue a risca na educação.


 Nos mandaram para as escolas para que mesmo ? para contemplar em silêncio o espetáculo da produção do fracasso escolar em larga escala ou só fazer barulho e aplicar o rigor dos feitores quando se tratarem de falhas dos peões como nós  ? Nos querem como uma reedição dos bedéis? Qual o instrumento de intervenção pedagógica dos técnicos? Pedir que o gestor gentilmente mude o que estiver errado se caso ele entender, que assim, talvez , porventura seja necessário fazer algo ficaremos muito felizes de ser portadores da boa vontade. Isso sinceramente é ridículo.


Outra questão, diz respeito a difusão dos resultados a quem mais interessa , a escola. A imprensa tomou conhecimento antes de todos nós das escolas. Que fosse antes tudo bem, mas não com uma diferença de MESES. O CAED entrega os dados em MARÇO à SE. Qual a utilidade, para fins de intervenção, do repasse e análise dos dados só ser possível EM OUTUBRO ???? ainda mais para uma GRE que tem indicadores péssimos como a nossa. Isso tendo em vista, que mesmo sendo entregues os relatórios , dados e etc, em muitas escolas o repasse não é feito, ou o é, como mera informação, sem intervenção pedagógica articulada. Ou seja, não tem impacto, é um investimento gigantesco que morre na porta de escola. E vai continuar assim até que essa problemática seja tratada com a importância que merece.


E por falar em investimento, quero REPUDIAR um argumento usado para justificar o atraso ou inexistência desse e de outros encontros de formação, que foi A FALTA DE RECURSOS para as diárias e alimentação. ESSE ARGUMENTO NÃO É SÓ INACEITÁVEL QUANTO É IMORAL, ESCABROSAMENTE IMORAL. Primeiro porque é falso, não pode faltar dinheiro para algo tão simples, o que FALTA MESMO É PRIORIDADE.


Como esperam a cooperação dos profissionais que vem para uma formação que já está atrasada em meses, que vão ficar devendo aulas, gastando do próprio bolso e ainda se comprometendo com um acréscimo considerável de trabalho ??? como Pernambuco vai crescer em qualidade tamanha mediocridade em situações tão importantes para a escola, e que tem muito mais resultado do que os inúmeros encontros promovidos em ótimos hotéis e que tem tido pouco ou quase nenhum repasse ou retorno para a escola. Isso não é um uso eficiente dos recursos. Sou técnico e professor da rede e digo com certeza que muitas ações da SE não tem capilaridade nas escolas tanto por falta de competência técnica para executá-las de forma articulada quanto de vontade política de implementar as mudanças em detrimento das conveniências.


Bom, essa é uma reflexão sincera e respeitosa de quem está com a mão na massa e comprometido tão quanto o Sr. para a melhoria de nossa educação. isso é só uma amostra grátis da angústia e da sensação de abandono que por vezes sentimos na principal instância da cadeia de implementação que é a ESCOLA. Digo tudo isto, no sentido de compartilhar a angústia e o desejo de ver a superação do quadro lastimável em que ainda se encontram as nossas escolas.
Certo de vossa atenção

Ítalo Agra de Oliveira Silva
Professor (264.236-0) e Técnico educacional (303.239-6)
Lotado em Ribeirão-PE – GRE-Mata Sul
 Pedagogo, Mestrando Educação - PPGE-UFPB


P.S -  uma questão objetiva :
- Porque os dados do IDEPE e SAEPE de 2010 foram retirados do site da SE e do portal do CAED-UFJF ? Sei que os dados chegaram para a SE em março e que foram postados na internet, que eu pessoalmente acessei. Digo isto, porque estou precisando para os trabalhos como técnico e para a pesquisa documental de minha dissertação.



[2] http://www.dianeravitch.com/  “Diane Ravitch – ex-secretária assistente de educação e líder do movimento para a criação de um currículo nacional – examina a sua carreira na reforma educacional e repudia posições que ela anteriormente defendeu firmemente. Baseando-se em quarenta anos de pesquisa e experiência, Ravitch critica as ideias mais populares de hoje para reestruturar as escolas, incluindo a privatização, testagem padronizada, responsabilização punitiva e a multiplicação irresponsável de escolas autônomas. Ela demonstra conclusivamente por que o modelo empresarial não é uma forma apropriada de melhorar as escolas. Usando exemplos de grandes cidades como New York, Philadelphia, Chicago, Denver e San Diego, Ravitch evidencia que a educação de hoje está em perigo.”

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